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terça-feira, 24 de março de 2015

Morte Perfeita

Imagino minha morte
Sempre das mais diversas maneiras
Mas tendo sempre o suicídio como regente
Como uma orquestra sombria a me perseguir

Nunca parei para digerir
Tantos motivos que me bastariam
Para abdicar desta insistente vida
Que segue há anos me atordoando

Perdi a conta de quantos ensaios já fiz
Para que um dia esta peça fúnebre
Posso estrear em sua plenitude
Para uma plateia de fantasma desconhecidos

Creio ser um covarde inveterado
Pois apesar da coragem inútil
De escrever estes versos fúteis
Falta-me a mesma para abraçar a dama negra

Em compensação coleciono medos
Até do adeus de mim mesmo
De ninguém se importar com minha ausência
De meu nome se apagar para sempre

Deixei de ter desejos há algum tempo
Pois realiza-los não mais me satisfaz
São apenas ilusões efêmeras
Como beijos roubados inesperadamente

Gostaria que o vento me levasse
Embalasse-me em teus braços invisíveis
Rumo ao mais profundo desconhecido
Onde o suicídio e a vida fossem irmãos gêmeos

Pois se até a lua e sol morrem para o outro renascer
Por que devo insistir em permanecer inócuo
Morrer seria apenas um recomeço
Não necessariamente para algo feliz é verdade

Talvez me torne apenas mais uma estrela
Oculta pelo brilho dos outros
Desejosa de explodir pelo universo
Tal qual versos berrados silenciosamente

Imagino a morte perfeita
Em poesias infinitas
Para todos aqueles que as digerirem
Sem julgarem este poeta que vos chora

Morrer sem mais insistir
Sem mais rabiscar letras em papeis amarelados
Banhados por lagrimas pranteadas inutilmente
Por todos aqueles que esperam por juntarem-se a mim


(Rodrigo Saraiva – 24/03/15)

sábado, 7 de março de 2015

Romantismo

Devia ter morrido de amor, mas é ele que vem morrendo em mim.
Acho que por acreditar cegamente nele, vivo na ilusão do amar,
e não vivo plenamente este sentimento.
Meu lado romântico está virando história,
mas como uma romântica nascida e criada,
tirar de mim os resquícios dessa minha essência é um trabalho árduo.
Devo confessar que o tempo e a vida vêm desconstruindo,
aos poucos, esse meu pedaço sedimentado.
Vou deixando essas migalhas para os próximos românticos,
porque a cada minuto interminável que passa,
vejo que isso não cabe mais a mim.
Deixo pistas desse tal de "Romantismo"
porque não me canso de acreditar que ele existe
e não quero que as pessoas o esqueçam simplesmente.
Não quero que ele vire apenas "conto de fadas",
palavras, registros de livros empoeirados.
Eu sei que ele está por aí a vagar pelas ruas
esperando cruzar com quem seja digno de sua presença.
Não o imagino como aquela ideia floreada demais, clichê demais.
O imagino diferente, pleno naquilo em que ele se propõe a ser.
Vejo aquela eterna cumplicidade sem exageros demais,
apenas a vontade de compartilhar aventuras e experiências com outrem.
Vejo mãos dadas pelas praças e sorrisos soltos com piadas bestas.
Vejo o sorvete ao fim de tarde, a pipoca no sofá aos finais de semana.
Vejo o carinho e o cafuné em uma conversa descontraída no banco da varanda,
assim como a vontade de saber do outro, de ouvir a voz, trocar olhares,
de simplesmente lembrar que o outro existe e isto ser mútuo.
Acho que isso acabou sendo pedir demais da minha parte.
Sinto-me como aquele capítulo do livro inacabado,
porque nunca consegui viver plenamente tudo isso que sinto.
Vivo pela metade: carinhos pela metade, sorrisos pela metade,
presença pela metade, tempo pela metade, amor pela metade.
Como se o tempo que nos é dado fosse igual àquele das ampulhetas dos jogos de tabuleiro.
Tudo passa tão rápido, que às vezes me pergunto se aconteceu de verdade.
A sua presença é tão lembrança que penso em fotografá-la
Para assim eternizá-la de alguma forma que não apenas em minha memória.
Penso em jeitos de te fazer "pra sempre" porque todas as vezes que te deixo,
não sei ao certo quando vou lhe ver de novo e isto basta para apertar-me o peito.
Não sei se vai sentir minha falta, se vai procurar saber de mim, não sei.
Não escuto nada, não enxergo nada, não sou mais nada.
Sinceramente, teu ser me intimida, pois tenho medo de falar que sinto saudade,
que lhe queria um pouco mais perto, que queria sentir que, mesmo diante das circunstâncias,
o teu esforço para me ver, saber de mim, me viver, existe.
Acho que lhe pedir pra querer me viver é mais do que você pode me dar.
Não é a presença física, é a presença emocional,
é o carinho em palavras, é o amor, é o amar.
Mas está tudo bem, enquanto existir amor em mim,
vou te amar com todas as minhas forças, palavras, carinho e cuidado.
Não por ingenuidade, mas porque só sei amar assim: por inteiro.
E até o amor se esgotar, o vivo de todos os jeitos que me é possível.
Ainda sinto saudade, ainda acredito em nós,
mas já não faço mais questão do que não é feito questão dos dois lados.
Já não me permito magoar mais, já não deixo que o seu desajeito me machuque.
Espero, mas existo e por estar vivendo, sinto, choro, sinto falta, desejo, amo.
E como disse, enquanto existir amor em mim, vou te dar tudo que de mim restar.
Quero ser teu cuidado, teu abrigo, teu carinho, teu porto seguro,
teu sorriso, teu ouvido, teu conselho, mas não posso ser só.
Se não me deixar ser, nunca vou poder te mostrar tudo que tenho pra te dar.
Que não duvide de meu amor, e que deixe eu te dar tudo que nele tem a ser vivido.
Sou se somos.

Te amo.

(Luana Valente & Rodrigo Saraiva - 08/03/2015)