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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Amizade

A amizade é algo de difícil compreensão
Pelo menos em sua plenitude
Comecei aprendendo da maneira mais dolorosa
A diferença entre amigos e conhecidos
Pois conhecidos são aqueles que você apenas
Pensa que conhece
Acredita que pode confiar
Espera que se importem
Acho que por isto não fujo da dor
Pois é no pranto que tudo se torna luz
É quando nossa alma se reinventa
E tudo se torna compreensão
Amizade é mais que simplesmente gostar
É uma tênue e preconceituosa linha
Que enclausura o amor
Mas que pode ser invisível aos olhos
Por mais estranho que possa parecer
A distância e o tempo
Juntos ou separados
São a balança desta relação
A distância por si só
Causa dor e sofrimento
Mas fortalece um sentimento básico
Chamado saudade
Esta chega acompanhada de lembranças
De bons momentos e de reflexão
Quem sabe de planos futuros
Ou talvez de renovação
Já o tempo serve para unir
O sentimento e o relacionamento
É aquilo que edifica
Promove a comunhão entre almas
Mas se juntarmos a distância e o tempo
A saudade será normalmente amena
O momento de reflexão será ocasional
Restará então o sorriso
Que servirá de moldura para o restante
Que criará aquele nó na garganta
Um ligeiro frio na barriga
E uma única certeza
A de que por mais que a distância pareça infinda
Por mais que o tempo envelheça a alma
A verdadeira amizade persistirá
Pois sozinhos não somos nada
Nem um mísero grão de poeira
Voa sozinho por aí
Nem na morte estaremos de fato sozinhos
Pois nas lembranças podemos ser eternos
A amizade é algo que não precisa ser enaltecido
Não quer ser gritado aos quatro ventos
Que resiste enfim a distância e ao tempo
Que assim como sua cara metade chamada amor
Pode sobreviver só de lembranças
De sorrisos e nós na garganta
De sinceridade e compreensão
E da certeza de que não se está só

(Rodrigo Saraiva - 02/2011)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Possibilidades

Se viver é o que ainda resta para nós
Se a existência por si só ainda é um fardo
Se a morte não basta para levar este pranto
Creio que uma vida inteira sonhando seria uma benção

Se a lua nos abandonar de vez
Se as noites forem ainda mais retintas
Se não houver mais casais enamorados
Creio que a solidão será bem-vinda companheira

Se não perdêssemos entes queridos
Se as famílias ainda fossem solidas
Se abraços permanecessem gratuitos
Creio que não haveriam distancias nem saudosismos

Se amores insistirem na solidão
Se paixões permanecerem adormecidas
Se beijos roubados perderem a graça
Creio que o amor será um sentimento obsoleto

Se um olhar perder a timidez
Se um sorriso perder a naturalidade
Se uma amizade perder a essência
Creio que os relacionamentos serão unilaterais

Se o adeus jamais for dito
Se o sentimento retido não por expelido
Se o grito morrer engasgado
Creio que não passaremos de fantasmas obsoletos

Se não houver mais tempestades
Se as flores não mais voarem rumo ao desconhecido
Se o mar um dia se cansar de ir e vir
Creio que abrir os olhos não será mais proveitoso

Se o sol não mais se pôr entre montanhas
Se as estrelas todas se apagarem em uma noite fria
Se o vácuo entre nós englobar nossos corações
Creio que teremos pena daquele que não chorar

Se não houver mais o que ser dito
Se versos não forem mais suficientes
Se poesias foram apenas gritos emudecidos
Creio que os poetas serão ainda mais seres vazios e desconhecidos


(Rodrigo Saraiva – 05/02/15)