Se viver é o que ainda resta para nós
Se a existência por si só ainda é um fardo
Se a morte não basta para levar este
pranto
Creio que uma vida inteira sonhando seria
uma benção
Se a lua nos abandonar de vez
Se as noites forem ainda mais retintas
Se não houver mais casais enamorados
Creio que a solidão será bem-vinda
companheira
Se não perdêssemos entes queridos
Se as famílias ainda fossem solidas
Se abraços permanecessem gratuitos
Creio que não haveriam distancias nem
saudosismos
Se amores insistirem na solidão
Se paixões permanecerem adormecidas
Se beijos roubados perderem a graça
Creio que o amor será um sentimento
obsoleto
Se um olhar perder a timidez
Se um sorriso perder a naturalidade
Se uma amizade perder a essência
Creio que os relacionamentos serão
unilaterais
Se o adeus jamais for dito
Se o sentimento retido não por expelido
Se o grito morrer engasgado
Creio que não passaremos de fantasmas
obsoletos
Se não houver mais tempestades
Se as flores não mais voarem rumo ao
desconhecido
Se o mar um dia se cansar de ir e vir
Creio que abrir os olhos não será mais
proveitoso
Se o sol não mais se pôr entre montanhas
Se as estrelas todas se apagarem em uma
noite fria
Se o vácuo entre nós englobar nossos
corações
Creio que teremos pena daquele que não
chorar
Se não houver mais o que ser dito
Se versos não forem mais suficientes
Se poesias foram apenas gritos emudecidos
Creio que os poetas serão ainda mais seres
vazios e desconhecidos
(Rodrigo Saraiva – 05/02/15)
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