Nunca gostei de ficar
Revolvendo o passado
Dores por vezes esquecidas
Que ressurgem fortemente presentes
Nunca gostei de relembrar
Aqueles últimos instantes felizes
Derradeiros momentos juntos
Que hoje tanto me apertam o peito
Nunca gostei de sofrer
Por isto tanto evito pensar
Preferi sempre não digerir tudo
Apenas o que não iria me corroer
Nunca gostei de admitir
Aquilo que relutantemente chamo de sentimentos
Os quais prefiro camuflar
Fingindo ser um poeta capaz
Nunca gostei de minha alma
Pois ela sempre se mostrou fraca
Um reflexo real demais
De tudo que sempre tento disfarçar
Nunca gostei de derramar lágrimas
Considero-as exposição inútil
Algo que não merece ser compartilhado
Que deve banhar apenas meu próprio interior
Nunca gostei de musicas
Que não retratassem aquilo que me move
O momento que me mantem
Que rege o quanto de ar sigo respirando
Nunca gostei de ser paciente
Infelizmente fui feito assim
Incapaz de explodir
Mandar tudo e todos pelos ares
Não gosto de sentir saudade
Da sensação de impotência que a acompanha
Sempre envolta em risos discretos
E banhada de sentimentos confusos
Não gosto de um amor não correspondido
Pois sentimentos unilaterais
Nunca vem acompanhado de boas ações
Carrega consigo apenas traumas futuros
Não gosto de ter medo
Em qualquer que seja a situação
Desde aquele que impede uma declaração de amor
Ao que não nos deixa viver em plenitude
Não gosto da chuva
Ela apenas me lembra de que se até o planeta chora
Por que eu vivo a me esconder covardemente
Por trás de uma falsa armadura de gelo
Não gosto de me sentir carente
Sensação ingrata que leva a dependência
O que quase sempre domina os pensamentos
Levando a uma letargia amorosa
Não gosto da distancia
Que me impede de agraciar meu mirar
Com aquilo que me mantem seguindo em frente
Justificando a inutiliza da existência
Enfim nunca gostei de fato de mim mesmo
Sempre me considerei medíocre
Um fraco habitante da vida
Lutando para meramente sorrir
Em um mundo repleto de infelizes
(Rodrigo Saraiva – 21/10/13)